Comecei por olhar para mapas antigos da Palmaille, uma das ruas mais antigas do bairro de Altona. Dei-me conta de como esta área se foi desenvolvendo ao longo dos séculos: uma paisagem de prados com moinhos de vento foi dando lugar a magníficas casas com jardins barrocos, até a industrialização acentecer, mais junto ao porto. A sul da Palmaille situava-se o porto de Altona, nas margens do rio Elba. Aí funcionavam os estaleiros navais onde se construíam navios para o comércio transatlântico de seres humanos. Em Altona, outrora uma cidade que integrava a Dinamarca, era possível fretar navios de dois andares já equipados com correntes, facto comprovável em documentos históricos.
A título de exemplo e de acordo com o que surge registado num estudo posterior do historiador Heinrich Sieveking, os comerciantes Caspar Voght e Georg Heinrich Sieveking terão pensado em recorrer a Georg F. Baur [1] para alugar um destes navios de dois andares, que serviria para transportar pessoas escravizadas da Guiné, mais concretamente do território do atual Gana, para a ilha de São Domingos, hoje Haiti. No entanto, o empreendimento fracassou por causa dos elevados custos do seguro do navio; isto porque as seguradoras tiveram em conta a elevada taxa de mortalidade dos escravos africanos numa viagem considerada de risco. Baur construiu todo um complexo de edifícios ao longo da Palmaille, onde atualmente se situa o Consulado da África do Sul e a sede da companhia de navegação Deutsche Afrika-Linie. Também Pierre Boué, um comerciante e armador huguenote, desenvolvia as suas atividades em Altona e Hamburgo. Embora fosse considerado um refugiado por razões religiosas, ainda assim construiu para a Companhia das Índias Orientais – a pedido do rei francês Luís XIV, que o havia expulsado – um total de 23 navios destinados ao tráfico humano.
Existiam obviamente outros intervenientes, com relações entre si e uma ligação comum ao Königliches Commerz-Collegium Altona [Real Colégio de Comércio de Altona]. O navio Ernst von Schimmelmann [2] estava sempre atracado em frente a Altona, pronto para, em caso de necessidade, largar rapidamente amarras, em especial rumo às Caraíbas, por exemplo, para a ilha de Sankt Thomas. Nas ilhas então dinamarquesas de Sankt Thomas e Sankt Croix ainda hoje existem bairros chamados Altona. Não sei se o navio Ernst von Schimmelmann foi efetivamente construído em Altona, mas é claro que pertencia à família Schimmelmann. A embarcação transportava não só mercadorias para as Caraíbas e para as Américas, mas também pessoas escravizadas.