De quem se esqueceu Lisboa

De quem se esqueceu Lisboa

Excerto do livro de Leonor Rosas, "De quem se esqueceu Lisboa - A luta pela inscrição da memória anticolonial e antirracista no espaço público".

Leonor Rosas
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\n\n\n Entrevista 1\n <\/h4>\n\n \n\n

\n Fiel ao nome \u2013 que transporta ra\u00edzes angolanas \u2013, Bairro do Mocambo, atual Madragoa, tornou-se, a partir do s\u00e9culo XVI, um espa\u00e7o da presen\u00e7a negra em Lisboa, massificada no esteio da Escravatura, e evidenciada, entre outros objetos e reali- dades, na fama das \u201cbolsas de mandinga\u201d. Recuperamos a her- an\u00e7a desses amuletos protetores a partir da Hist\u00f3ria da In- quisi\u00e7\u00e3o, que testemunha um passado rico em estrat\u00e9gias de resist\u00eancia e integra\u00e7\u00e3o. Com liga\u00e7\u00e3o a S\u00e3o Bento, hoje palco de novas lutas negras.\n \n

\n Aguentaram press\u00f5es e amea\u00e7as de tortura por quase um ano, at\u00e9 cederem \u00e0 \u201csalva\u00e7\u00e3o\u201d da confiss\u00e3o e do arrependimento. Presos em 1730, Jos\u00e9 Francisco Pereira e Francisco Jos\u00e9 Pedroso, ambos negros, oriundos da outrora Costa da Mina \u2013 hoje Benim \u2013, foram condenados pela Inquisi\u00e7\u00e3o de Lisboa por feiti\u00e7aria e supersti\u00e7\u00e3o.\n \n

\n Os dois processos surgem ligados ao mesmo caso, e servem para ilustrar uma pr\u00e1tica que se popularizou em Portugal a partir de finais do s\u00e9culo XVII: o uso das \u201cbolsas de mandinga\u201d, afamadas pelo seu poder protetor.\n \n\n \u201cElas protegiam de facadas, de tiros e das pancadas de senhores cru\u00e9is\u201d, explica-nos o historiador americano James Sweet, acrescentando que a sua efic\u00e1cia era publicamente\n \n\n James Sweet acrescenta que embora esses talism\u00e3s se tenham expandido com o cresci- mento da presen\u00e7a negra em Lisboa, os portugueses brancos tamb\u00e9m se tornaram fervo- rosos adeptos da sua magia, especialmente ativa no velho bairro Mocambo e nas suas proximidades, como a zona urbana de S\u00e3o Bento, a caminho de Santa Catarina e do Bairro Alto.\n \n \n\n\n\n \n \n \nMadragoa, antigo bairro do Mocambo. 2021 \u00a9 Nome do autor da foto\n\n\n\n\n\n\n\n A \u00e1rea tornou-se uma refer\u00eancia africana no mapa lisboeta a partir do trabalho da historia- dora Isabel Castro Henriques Isabel Castro Henriques, que, h\u00e1 mais de 10 anos, publicou as suas descobertas sobre o passado da atual Madragoa. \u201cO meu livro A Heran\u00e7a Africana em Portugal, de 2009, d\u00e1 notoriedade e visibilidade ao Mocambo, ao falar nele como um espa\u00e7o africano\u201d, sublinha a tamb\u00e9m professora.\n \n\n Especialista em Hist\u00f3ria de \u00c1frica, Isabel Castro Henriques real\u00e7a que foi o conhecimento em l\u00ednguas angolanas, acumulado ao longo de d\u00e9cadas de estudos sobre o \u201ccontinen- te-ber\u00e7o\u201d que a despertou para uma investiga\u00e7\u00e3o sobre a condi\u00e7\u00e3o \u00fanica do bairro.\n \n\n\n\n\n \n +\n -\n \n\n Bibliografia\n \n \n\n

\n Sweet, James H. (2013): \u201cThe Hidden Histories of African Lisbon\u201d, in A\u00f1izaresesguerra, J.; Childs, M.; Sidbury, J. (Org.) (2013). The Black Urban Atlantic in the Age of the Slave Trade, cap\u00edtulo 11. University of Pennsylvania Press, Filad\u00e9lfia.\n \n

\n Lahon, Didier (2004): \u201cInquisi\u00e7\u00e3o, pacto com o dem\u00f4nio e \u201cmagia\u201d africana em Lisboa no s\u00e9culo XVIII\u201d, in: TOPOI, v. 5, n. 8, jan.-jun., 9-70.\n \n

\n Castro Henriques, I. (2019): \u201cRoteiro Hist\u00f3rico de uma Lisboa Africana, s\u00e9culos XV-XXI\u201d, ACM, Lisboa.\n \n

\n Buono Calainho, D. (2004): \u201cAfricanos penitenciados pela Inquisi\u00e7\u00e3o portuguesa\u201d, in: Revista Lus\u00f3fona de Ci\u00eancia das Religi\u00f5es \u2013 Ano III, n.o 5\/6., 47-63.\n \n

\n _________ (2020): \u201cMandingueiros negros no mundo atl\u00e2ntico moderno\u201d, in Trashumante. Revista Americana de Historia Social, no 16, 10-32.\n \n \n \n \n \n\n"}

 

 

 

 

 

 

 

Zuletzt geändert am: 20/11/2024 23:56:24